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Não sei

Me sinto triste, confusa. Um buraco imenso se abriu dentro de mim. Dói, uma dor que nem sei descrever. Mais uma vez, quando estava me levantando, o tombo. E parece que as quedas tem se tornado piores, talvez eu suba demais. Nem por isso eu vou desistir de subir, mas tenho que aprender a levar cordas de segurança. Tudo bem que eu não entendo isso de arriscar-se com segurança, mas deve ser melhor.
Acho que estou diferente. Essas mortes diárias, não digo diárias, mas essas mortes constantes vão transformando o que eu era no que sou. Não sei se gosto disso, mas também não desgosto. Tudo muda mesmo, só não queria levar tanta porrada. Porém, pedir alguma coisa é sempre demais.

Desconheço um título

“Sossega!” foi o que me disseram. “Aquiete-se, recolha-se, os malditos dias estão chegando.”. É esse final de ano, só pode. Tá todo mundo meio virado, meio atordoado, cheio de dúvidas, são os corações. Ninguém se entende, há um jeito de dor pelos cantos.

Ano cruel, se bem que os últimos anos têm sido bem estranhos. Talvez seja porque não tenha que fazer provas de final de bimestre nem ir pra natação nem fazer ballet nem levar o boletim pra minha mãe assinar. A normalidade não habita mais os meus dias. Não que eu não sofresse antes, mas era diferente, sem esperanças. Sofrer sem esperar que aquilo se resolvesse era minha melhor opção, não tinha medos na história.

Respiro fundo e tento seguir. A concentração não vem há muito tempo me visitar. Tenho uma bola de boliche entalada na garganta e ela está machucando, não consigo falar sem me molhar. Me esqueci de algumas palavras, minhas roupas estão do avesso e eu também.

Meus dias estão com cara de domingo, nublados. O tempo está emperrado. Existe um cheiro de ferrugem e de coisa guardada no ar. Queria saber como tirar tudo isso do porão. Preciso de ajuda, alguém pra carregar o baú junto comigo. O problema é que todo mundo tem seu próprio fardo, a gente não pode esperar que alguém leve o nosso peso.

Acho que as luzes de Natal reforçam um certo sangramento, é só um fio que escorre, mas intermitente. Depois vêm os fogos e tudo fica com uma cara diferente, mesmo que por pouco tempo. Os dias vão fazendo-me esquecer de tudo ou lembrar daquilo como uma coisa boa e ruim, mas sem doer, cicatrizado. O problema é que logo aparece outra coisa.

Já que não posso resolver isso agora, vou ouvir John Coltrane, andar por aí, acender um cigarro e torcer pra que ele dure 5 minutos, pelo menos.