Motoristas à beira de um ataque de nervos

É impressionante como as pessoas tornam-se violentas quando estão atrás de um volante. Não sei explicar muito bem o que acontece. Talvez os psicólogos, antropólogos, sociólogos e afins tenham algumas teorias sobre esse fenômeno. Eu só observo e fico chocada com o que acontece com o cidadão que está dentro de uma máquina e que se transforma completamente. Muitos motoristas são violentos, egoístas, donos da razão, da rua e do mundo. Ninguém está errado quando falamos de trânsito, todo mundo está certo e o outro pouco importa.

O curioso é que muitas dessas pessoas que agem como bestas selvagens no trânsito, muitas vezes são defensoras da natureza, protetoras dos animais, postam várias coisas no facebook sobre gentileza, são contra a corrupção, abominam qualquer tipo de preconceito e essas coisas que todos nós somos hoje. Porém, elas não conseguem reproduzir tudo o que pregam em redes sociais e nas discussões com os amigos quando o assunto é trânsito. Tudo vai por água abaixo. Seu comportamento cordial é atropelado pela máquina que ele tanto preza e que muitas vezes usa como arma. O respeito pelo outro é deixado em casa. É tudo muito semelhante ao antigo desenho do Pateta em que ele é um cidadão pacato, mas se transforma quando assume a direção.

 

Por que que ao invés de atentar contra a vida de os outros motoristas, pedestres e ciclistas, essas pessoas não usam essa fúria toda para manifestar e pedir melhorias no transporte público? Assim não teríamos que tirar tantas vezes por dia nossos brinquedinhos letais da garagem e não passaríamos por tanto estresse nos engarrafamentos.

Enquanto nossa mentalidade não mudar, vamos continuar convivendo com pessoas cada vez mais raivosas e infelizes. A bola de neve cresce cada vez mais e vai acabar destruindo nossa cidade.

Nota

Ela precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. A vida corria e passava como uma bala saída de um revólver e ela se sentia criando raízes naquele canto que mais parecia um cemitério. Era preciso mover-se, andar, respirar algo que não fosse o cheiro da poeira e a presença de ácaros que cobriam os corpos daqueles que ali ficavam. Todos estavam envelhecidos e sem rumo. Ela não queria nada daquilo. Por mais que parecesse impossível conseguir ir atrás dos sonhos, não era justo viver no purgatório. 

Sim, era preciso romper aquela barreira de concentro que se colocava entre ela e o novo. Difícil seria encontrar um jeito de fazer isso. Ela mal dormia, quase não comia, parecia desaparecer na dúvida. O lugar fazia mal para ela, impossível continuar daquele jeito.

Febre, dor, desespero, inércia. Seu corpo estava tomado pelo mofo. A cada dia que passava, menos energia ela tinha. Porém, ela lutava e tentava achar uma saída. Melhor morrer a ser enterrada viva. E ela reuniu o resto de força que havia e foi atrás do novo, que nunca veio até ela. Esperar não ia dar em nada, viu que teria muito o que fazer

Nem lembrava

que tinha um blog

O lance é o seguinte

Hoje me dei conta que em pouco mais de duas semanas vou apresentar minha monografia. Ou seja, em breve serei uma comunicóloga (não me sinto à vontade com esse negócio de jornalista).  O que eu vou fazer com isso? Sei lá!

Só sei que ontem tomei algumas decisões muito importantes pra minha vida. Isso é o que importa. Um diploma que não vale muita coisa vai me ajudar pra caramba nessa próxima jornada. Afinal de contas, não dá muito bem pra saber o que é que realmente vale nessa vida. 

Foram anos de UnB. Sou a última sobrevivente da Yves Reuter (será que alguém se lembra disso?). É o fim de uma geração. Por mais que eu não tenha ficado esse tempo todo por lá, minha primeira passagem pela Faculdade de Comunicação foi em 2005. Saí em 2006, voltei no meio de 2008, mas em outro curso. Antes eu era do Audiovisual.

Enfim, tô aí no finalzinho e passei por muita coisa nesses anos todos que se passaram. Vamos em frente que tem mais coisa por vir.

A primeira parte da viagem

Vou contar essa história por partes, porque muitas coisas aconteceram em uma semana.

No final de julho fiz uma viagem à São Luís do Maranhão. O objetivo era cobrir a 43ª reunião da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência, a SBPC. Esse nome só me fazia lembrar de uma música do Watson, o título da música era igual ao nome da banda logo que eles começaram a tocar, Watson e o progresso da ciência.

A viagem foi custeada pela UnB, já que fui fazer a cobertura fotográfica do evento (prra quem não sabe, eu trabalho há uma ano e meio na Secretaria de Comunicação da UnB). Cobrir a SBPC está virando uma tradição na Secom. Dessa vez, a reunião aconteceu no Maranhão. Eu fui escalada junto com dois repórteres.

A saga da viagem começou na hora de tentar reservar um lugar pra ficar. Hotéis e pousadas lotados. O que fazer? Pedi ajuda a um amigo que tem parentes lá. Dias depois ele me mandou a resposta dela. Existiam duas pousadas com quartos vagos no centro, os hotéis mais baratos estavam com quartos reservados e os lugares que ainda tinham vaga custavam muito caro. O orçamento era baixo e precisávamos achar um lugar em conta para ficar.

Tentei insistentemente ligar em uma das pousadas, mas não atendiam. Finalmente, consegui falar na Pousada Maranhense. Eles não faziam reservas, segundo a moça que me atendeu, mas sempre tinham quarto vago. Era só ligar um pouco antes e avisar que estava chegando. Mandei e-mail para os colegas que iriam comigo dessa pousada e o pai de uma das repórteres conseguiu convencer a dona da pousada a reservar dois quartos pra gente. O preço da diária era bem em conta. Ao resolver isso fiquei aliviada, já que não iria ter que ficar embaixo da ponte.

Chegou o dia da viagem, era um sábado. O voo saía quase que no domingo. Foi tudo tranquilo, tirando o cara do meu lado que não parava de roncar e se mexer. O aeroporto era pequeno, foi difícil pra pegar a bagagem numa esteira cercada por gente que não dava licença de jeito nenhum. Esbarrei em um cara e ele ficou indignado, mesmo quando pedi desculpa. Daí, gritei com ele “Eu já pedi desculpas, cara”. E foi assim que pisei em solo maranhense pela primeira vez.

Aliás, quando saí do avião senti um bafo quente como nunca tinha sentido em toda a minha vida. Minha preferência por climas frios é conhecida, mas resolvi deixar o preconceito em casa e aproveitar a oportunidade que me foi dada. Para conseguir táxi foi fácil, apesar do aeroporto estar lotado. Demos o endereço para o taxista e ele foi. Chegamos perto de uma praça, então ele parou. Não tinha como entrar no quarteirão em que iríamos ficar. Ele não sabia o local exato da pousada, mas de longe eu vi a placa. Tivemos que ir andando até lá. Tinha um pessoal bem estranho naquelas redondezas.

Ao entrar na tal Pousada Maranhense, o cheiro de mofo gritou. Uns tipos estranhos saíam e entravam de lá. O cara disse que não tinha mais o quarto de R$80, mas tinha os de R$100. O motivo do preço ser mais alto não foi bem explicado. Segundo ele era porque os quartos tinham sido reformados recentemente. Por ser 3h da manhã, num local que julgamos ser um pouco perigoso e por não ter nenhum outro lugar pra ficar, resolvemos ficar. Os quartos tinham apenas camas de casal. Dividi um quarto com uma colega e o rapaz ficou sozinho no dele.

Depois de um tempo percebemos que não existia janela no quarto, nem ao menos um basculante no banheiro. Também não tinha controle do ar condicionado e temperatura estava em 17ºC e não existia cobertor no lugar. Mesmo se existisse, acho que eu não usaria. A pousada não era bem uma pousada. Muitos indícios de que era uma espécie de motel. Na tabela de preços que estava em cima do frigobar, anunciavam lubrificantes e preservativos. No espelho ao lado da cama, ofereciam “camisinha estimulante do prazer femenino”, isso mesmo, “femenino”, “camisinha retardante” e “gel lubrificante”.

Acho que foi uma das piores noites da minha vida. Não dormi quase nada. Sempre que pegava no sono, acabava acordando. Até liguei para alguns hotéis na madrugada, mas nenhum tinha quarto vago e o que tinha custava os olhos da cara. Foi terrível, porque nem tinha condições de sair pra caminhar, porque o horário não era próprio e nem tava muito afim de ficar no hall daquele lugar.

Quando amanheceu, decidi que iria sair pra procurar um lugar um pouco melhor pra ficar. Não iria conseguir ficar 7 dias naquela espelunca, muito menos com o cheiro de mofo e barulho de gente transando como se estivesse dentro do nosso quarto.

Eu e a Luciana resolvemos sair pra procurar um hotel. Andamos pouco mais de 50 metros e entramos num lugar chamado Lord Hotel. Pedimos um quarto triplo e o cara arrumou pra gente. Pedimos pra ver como era e nosso critério foi saber se o quarto tinha janela e tinha. Corremos pra pegar nossas coisas na Pousada Maranhense, pegamos a diária que pagamos adiantado e fomos felizes da vida.

O Lord deve ter sido um hotel de luxo no início do século passado. Precisava de umas reformas, mas era limpo. Tirando um mané que ficou na recepção um dia, o pessoal era atencioso. A moça que limpava os quartos veio perguntar se tava tudo certo. Quando fiquei sabendo que iria pra São Luís, já tinha imaginado que ficaria num local como aquele, sem muitos luxos.

E na noite daquele dia consegui dormir. E me senti num hotel de luxo, quando no dia seguinte descobri que tinha café-da-manhã. É impressionante como a gente passa a dar valor à pequenas coisas quando a gente passa por um perrengue.

Depois tem mais impressões sobre o Centro Histórico, o arroz de cuxá, o Restaurante do Senac e outras aventuras.

Diário de guerra

Ultimamente tenho repensado todas as decisões que tomei. Há dois anos decidi que queria ser fotojornalista por uns tempos. Acabei deixando o texto de lado. Só que agora estou quase me formando e não sei por onde começar.

Quero voltar a escrever, mas esse mundo é meio cruel. Quem vai contratar uma jornalista que tem uma experiência ridícula com texto? O jeito é correr atrás do prejuízo.

Muito mais do que sete meses

E eu que achava que estava acabando? Pois é, mas agora nem tem data para isso. Será que vou conseguir aquele merecido descanso? “Somos jovens demais. Temos mesmo é que aproveitar nossa força”. O problema é quando a vontade fica pra trás. Sempre fazendo promessas, mas nunca cumprindo. Tudo fica pra próxima segunda. Sei não, segunda-que-vem tem virado amanhã no meu vocabulário. 

Uma hora eu tomo jeito, minha gente.

Nota

Preciso voltar mais vezes aqui. Tinha tantas ideias, mas acabei esquecendo tudo.

Vou voltar

Definitivamente, preciso voltar a colocar coisas no papel. A partir de hoje, a correria aumenta. Até não sei quando, porque os professores resolveram entrar em greve.

Quando eu pensava que as coisas iriam ficar mais fáceis, que faltavam pouco mais de seis meses pra fechar esse ciclo. Porém, tudo muda. O jeito é ir.

 

Queria saber

Juro que faria qualquer coisa pra saber a causa do último aperto no peito. O problema é que ninguém vai me contar. Vamos para o eterno jogo de adivinhação. “Adivinha o que é?”. E aí passam dias, meses e eu nem me lembro mais o que tava sentindo. Melhor assim. Talvez seja falta de escrever. Talvez seja só falta mesmo. Sei lá do que. De vontade, talvez. Haja talvez nessa história.

Tá tão perto de fechar um ciclo da minha vida que não sei se fico feliz ou com medo. “Querido diário”, que vontade de hibernar. Mas eu só adiaria tudo de novo. É o medo de virar a página. Mas que besteira! Minha vida vai bem, obrigada. E eu insisto em complicar. Tá na hora de deixar a adolescência pra lá, né não?

Então vamos, porque sete meses voam.

Hoje

Meus textos já não têm a mesma cor cinza de antes. Diferente do dia que faz lá fora, sinto um coração mais aconchegado, cheio de sorrisos e vida. Eu sei que isso não deve ser definitivo, por isso aproveito cada gota que me dão dessa pequena felicidade. Nem tudo é morto, nem tudo é difícil, nem tudo tem cheiro de guardado, o mofo não está espalhado por todos os lugares.

 

Meu tempo é agora. E eu quero que o agora seja agora e não amanhã. Sigo em frente com coragem, olhando em volta, sem pensar no que vai ser de mim no próximo passo. É bom estar viva.

Normal

Até tenho histórias bonitas pra contar. Por exemplo, do dia em que ele olhou ela nos olhos e tudo se iluminou. Tenho histórias de um sentimento forte que une pessoas que nunca tinham se visto antes e que logo de cara se envolveram. Histórias de gente que dá certo. Bem melhor do que as dores enfrentadas por sujeitos tortos e problemáticos. Gente que vara as noites sem dormir por conta de um vazio imenso que consome a alma.

Diferente de muitos por aí, eu não quero saber de desgraças. Não quero saber de anjos tortos e gente difícil. Eu gosto de simplicidade e sorriso no rosto. Bom mesmo é quando tudo se ilumina e a vida muda pra melhor. Pena de gente que complica e que gosta de sofrer. Eu não fujo da luta e prefiro coisas boas.

Chega-se a conclusão, quando a maturidade vem, de que a melhor coisa que existe é ser normal. Por mais que “de perto ninguém é normal”. Não vamos entrar nesses detalhes bestas.

Calmaria

Há meses que não escrevo uma linha sequer. Talvez por não me sentir inquieta ou por não ter nada interessante a dizer. Quem quer saber de vidas tranquilas e histórias sem altos e baixos?

Dias de superação não têm feito parte da minha rotina. Pode parecer sem graça, mas, pra mim, é o melhor momento da minha vida até agora.

Ela

Ela exalava um cheiro de sol que despertava os homens sonolentos que se sentavam pelos bares da cidade. Independente da hora do dia, ela estava presente o tempo todo. Nem a chuva atrapalhava seus planos. As dores eram apenas dores e não mais os monstros de antes.

Ela encantava apenas de olhar com seus grandes olhos castanhos. Os corações se perdiam nela, se desmanchavam de prazer ao ver os sorrisos de boca inteira. Não tinha uma cidade que não tivesse caído aos seus pés.

Os passos eram leves como as roupas floridas que usava. Os cabelos emolduravam harmoniosamente o rosto bem feito. Ela era o começo de tudo. Ela era o amor encarnado em um corpo pequeno e magro.

As horas eram leves ao seu lado. Ela não sentia medo de ser tão feliz quanto realmente era. Dava até vontade de tocar a felicidade dela com as mãos. Dava vontade de ser ela, mas ninguém poderia ser além dela.

Eu fui embora

O certo é que eu fui mesmo. Fui embora sem dar adeus, sem escrever bilhete, sem ser gentil com ninguém. Eu, que nunca fui embora de verdade, nem cogitei olhar pra trás. De nada serve se agarrar ao que não existe e só existiu de um jeito que você mesmo inventou.

Eu parti com o coração vazio, como nunca tinha ficado antes. Minha concepção de amar desse jeito vai muito além da dor suportável. Por isso, eu joguei tudo no lixo e tirei também a roupa que não me servia mais por estar impregnada de coisas mortas e sem solução. Da última vez que fui ensinar o que era o amor, terminei na sarjeta sem dinheiro, sem casa, sem coberta. Então eu nem peguei minhas coisas para não me sujar.

Eu deixei tudo no cabide, as louças desbotadas, o livros empoeirados no chão da sala. Queimei as fotos e um cachecol vermelho. Quebrei alguns discos que não ouvia mais. Deixei as meias encardidas no meio da casa com as garrafas quebradas na mesa e a dor que não era mais minha e fui.

Fui um lugar que não conhecia, mas que você não fazia parte. Porque era melhor um coração sem nada do que com você dentro. Porque as mentiras acabam e só fica mágoa. Porque a vida tem que ser melhor. Só pode ser melhor do que isso. Porque isso é o fim de tudo. E todo fim caminha pra um começo. Nem que seja assim do avesso, sem roupa, sem documento, sem sorriso, só com as mãos limpas e os cabelos um pouco bagunçados pelo vento. Porque é melhor ir do que chorar à noite. Porque eu só posso ser feliz longe daquela casa. E se não for aqui, vai ser em outro canto. Porque eu não tenho medo e você é feito disso.